domingo, 26 de julho de 2009

ALTO FLAGELO

Acordou com raiva do mundo,
perdido, sim, contrariado.
Acordou com raiva, desnudo,
sabia o que era, coitado.
Despertou de sono profundo,
mas já sem ninguém ao seu lado
sentiu muita raiva de tudo,
passou todo o dia sentado.
Ter raiva de um mundo inteiro,
culpá-lo da insatisfação,
tardar em ser verdadeiro
e esperar nada em reação?
Todo tempo passa ligeiro,
nunca que passa é em vão!
Do tempo a gente é passageiro,
e dele não se tira perdão.

Ah!, não.

Sentir essa raiva viril,
sentir-se com tudo a perder,
sentir que o que tinha, partiu,
saber que o culpado é você...
Ver que o mundo lhe reagiu
aos atos que quis cometer,
ver o saldo do que feriu
com atos. Por fora, blasé.
Sentiu que ainda era tempo
e que a raiva lhe dava poder.
Pensou que se fosse correndo
alcançava de novo. O quê?
Pensou em ser tão violento,
provocou, mas ainda não vê:
provocou o próprio sofrimento
e chorou como quando bebê.

E chorou e se enervou lá do alto porque lá no alto e lá dentro sabia que a raiva que sentia era dele.

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